A Polícia Civil investiga a ação de estelionatários que se passam por um leiloeiro de Passo Fundo. Em julho, vítimas do golpe e o profissional, cujo nome está sendo usado pelos criminosos, registraram a ação junto às autoridades. Algumas pessoas chegaram a pagar os bens que arremataram no site falso.
O leiloeiro em questão é Leandro Ferronato, de Passo Fundo, que desempenha a profissão há quase 30 anos e, no início de julho, foi surpreendido ao descobrir que seu nome estava sendo utilizado por golpistas na internet. Ver seus dados em sites falsos já aconteceu antes.
— Há três anos fomos surpreendidos com um site chamado Ferronato Leilões em São Paulo. Agora somos surpreendidos novamente para esse novo site e verificamos que se tratava de mais de um golpe no mercado — disse Ferronato.
O empresário conta que tem recebido ligações e até visitas de pessoas que querem agendar a retirada ou buscar mais informações sobre lotes que compraram em leilões no site com seu nome.
— Tivemos uma pessoa de Passo Fundo que esteve aqui no escritório nos comunicando que comprou um bem no suposto site Ferronato e achando que era meu. São prejuízos altos, você tem ali veículos às vezes de R$ 70 mil, R$ 80 mil e R$ 50 mil — relata.
O responsável pela área digital da empresa do leiloeiro, Marcos Gabriel dos Reis, tentou retirar o site do ar através de denúncias e até contatou os golpistas, mas acabou sendo ameaçado de morte.
— O golpista tirou a máscara que estava me atendendo normalmente e começou a me ameaçar. Disse "você vai morrer", "nós vamos descobrir onde você mora" e "você nem foi lesado, por que está fazendo isso?", então a gente fica com aquele receio — conta.
A falsificação de sites e uso de dados de leiloeiros que constam na lista da Junta Comercial do Rio Grande do Sul não é inédita na região. Gilmar Thume, que atua em Carazinho, relata que uma cópia do seu site foi criada há cerca de um ano.
Quando viu, passou a receber mensagens de pessoas que solicitavam a liberação dos lotes arrematados na página falsa.
— Algumas pessoas acabaram pagando. Teve um caso que não pagou, inclusive por sugestão minha, para verificar mais a fundo a situação, porque o vendedor era uma pessoa jurídica e o depósito estava ocorrendo na pessoa física, então pensei que era praticamente 100% certo que se tratava de um golpe — lembra.
Como agem os criminosos
Apesar de conter erros de ortografia, de modo geral as páginas falsas são praticamente idênticas e simulam todo o procedimento real dos leiloeiros. Em geral, elas usam o nome e ou a marca dos leilões listados nas Juntas Comerciais dos estados.
A diferença é que esses sites oferecem veículos, imóveis e outros bens com valores muito abaixo do mercado e do que é praticado nos leilões reais.
Um exemplo é um veículo SUV importado que tem valor de mercado na casa dos R$ 140 mil. Em um arremate real, esse automóvel seria vendido por 15% a 20% a menos do valor, ou seja, pouco mais de R$ 110 mil. Todavia, no site falso, um veículo idêntico é anunciado com lance inicial de R$ 51 mil.
A vítima, acreditando que pode fazer um bom negócio, dá um lance e acaba vencendo o leilão. Ao fazer o pagamento, o dinheiro é rapidamente dividido e repassado para diversas contas bancárias.
Essas situações são conhecidas pela Polícia Civil. O delegado Venicius Demartini relatou que muitas vítimas procuram as autoridades após efetuarem o pagamento e descobrirem o golpe.
— É uma realidade que já investigamos há algum tempo. Muitos estelionatários utilizam desse golpe falsificando sites de leilão para obter vantagens indevidas. Inúmeras pessoas já nos procuraram, já relataram fatos nesse sentido — disse.
As investigações destes crimes são complexas por causa da forma como os criminosos agem.
— São investigações que demandam muitas diligências porque os criminosos utilizam ferramentas de tecnologia de informação, inclusive hospedando sites em outros países que não o Brasil. São todas essas questões que dificultam a investigação — relata.
A orientação é que, em caso de dúvida, a população deve interromper a transação e não depositar os valores solicitados.
Como identificar golpes em casas de leilão
- Desconfie de "preços milagrosos". Se um item conhecido por ser caro está muito abaixo do valor de mercado, é possível que seja golpe
- Na dúvida, entre na rede social original do leilão (observe as interações e número de seguidores, por exemplo) e acesse o site verdadeiro através deste canal.
- Antes de aprovar o pagamento, observe o destino do dinheiro. Comprou em leilão e a conta para pagamento é pessoa física? As chances de ser golpe são altas.
- Observe detalhes do site, como erros de ortografia, falhas no design e endereço web — questões que muitas vezes passam despercebidas em páginas falsas.