O ano de 2023 ficará marcado pelas intempéries de proporções opostas que afetaram diretamente a produção agropecuária do Rio Grande do Sul, causando uma perda que, só em receita soma R$ 57,9 bilhões. O número foi apresentado pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag-RS) no tradicional balanço anual da entidade nesta quarta-feira (06). A projeção leva em consideração o volume que se deixou de colher, multiplicado pelos preços dos produtos — ou seja, o valor bruto de produção.
— Ao fazermos um balanço do ano, necessariamente devemos falar em mudança climática. Tivemos um registro de uma seca intensa e de El Niño, com 11 ciclones registrados no Rio Grande do Sul. É um sinal de alerta gigantesco para que possamos olhar esse tema com atenção — destacou Kaliton Prestes, assessor de Política Agrícola da Fetag-RS na apresentação.
Para dar uma ideia da representatividade do montante perdido, a entidade fez comparações. O valor de 2023 representa 83% do orçamento do RS, 92 vezes o orçamento da Agricultura do Estado e seis vezes o de todo o investimento de crédito rural oficial em 2023.
— Iniciamos o ano com uma das maiores secas. Tínhamos esperança da safra de inverno cheia. E estamos terminando com problema na safra de verão de novo — frisou Carlos Joel da Silva, presidente da Fetag-RS.
Considerados os problemas em decorrência de condições climáticas adversas que se repetiram no Estado de 2020 para cá, a cifra cresce. Nesse período, o que faturamento "levado" pelo clima chega a R$ 135,8 bilhões.
— As perdas com a mudança têm um alto impacto na agricultura familiar, na segurança alimentar — acrescentou Prestes.
Para lidar com os desafios impostos pelo tempo — e por outros fatores — a Fetag-RS estabeleceu um planejamento estratégico, a serem trabalhados por meio do Comitê da Agricultura Familiar, e junto aos governos. São sete pontos: elaborar o diagnóstico da vocação produtiva de cada região do Estado, ampliar o acesso ao crédito rural oficial, focar no manejo e conservação do solo e da água e na irrigação, fortalecer a agroindústria familiar, incentivar a comercialização da venda da produção artesanal, implementar as atividades previstas no Programa Estadual de Desenvolvimento da Pecuária de Corte Familiar e aumentar o investimento em assistência técnica e extensão rural.
Joel reforçou a importância de não deixar de lado ações que permitem reservar a água da chuva — o Estado tem uma média de 1,8 mil milímetros ao ano:
— Bastou chover, que ninguém mais lembra disso.