Com estimativas em queda para a produção de soja na safra brasileira de 2023/2024 por conta do clima seco no bioma Cerrado, o mercado aposta no potencial produtivo dos Estados do Sul, da Argentina e do Paraguai para compensar as perdas e manter o nível atual de preços. Levantamento da consultoria AgRural mostra que somente 94% da soja havia sido semeada no país até quinta-feira passada, com retardos causados pelo excesso de chuva ao Sul e estiagem ao Norte, onde produtores precisaram investir em replantios. A influência do fenômeno El Niño no comportamento do clima nas próximas semanas será decisivo para estancar ou ampliar as perdas no complexo soja. No Mato Grosso, maior produtor nacional, a falta de chuvas provocou atrasos e replantios e já consolidou perdas de 3,5 milhões de toneladas, conforme a Ag Rural.
A ausência de chuvas regulares em Mato Grosso retardou a semeadura, que em temporadas normais é realizada nos meses de setembro, outubro e novembro. “Este ano, a gente viu o produtor plantando ou replantando em dezembro e temos mais áreas com dois replantios e estande irregular de plantas”, afirma o engenheiro agrônomo e consultor da AgRural Adriano Gomes. No Sul, o cenário é inverso, com umidade excessiva dificultando a entrada nas áreas e impondo ritmo mais lento na implantação. Conforme a Emater/RS-Ascar, a área semeada no Rio Grande do Sul alcançava 84% na semana passada, mas ainda em atraso em relação à média dos últimos cinco anos. De maneira geral, a germinação e o desenvolvimento vegetativo são considerados satisfatórios.
Novo corte no radar
O cenário de adversidade climática e quebra de produção no país ainda não se reflete em rali de preços na bolsa de Chicago, que tem mantido o bushel da soja ao redor de 13 dólares. “O mercado tem olhado para perspectivas favoráveis de safra na Argentina, que pode colher entre 48 e 50 milhões de toneladas neste ciclo, contra 23 milhões da temporada passada. Parte da quebra do Cerrado pode ser compensada pela boa produção na Argentina, no Paraguai e no Sul do Brasil, que ainda tem bom potencial”, analisa Gomes.
No início de novembro, a AgRural estimou que a safra brasileira de soja chegaria a 163,4 milhões de toneladas. Em 30 de novembro, um novo estudo calculou a perda de 4,3 milhões de toneladas e ajustou a estimativa para 159,1 milhões de toneladas, redução de 2,64%. “O maior corte foi em Mato Grosso, de 3,5 milhões de toneladas, devido à estiagem”, detalhou Gomes. A próxima estimativa da AgRural deverá ser divulgada na primeira semana de janeiro e deve dar mais uma pista frente às incertezas e à insegurança sobre o tamanho da safra. “Muito provavelmente, já virá com mais um corte para a produção do país”, estima Gomes. O temor dos agricultores é com a persistência e piora do quadro de déficit hídrico, estendendo as perdas também para a região do Matopiba, onde o plantio também apresenta dificuldades, especialmente no oeste baiano.