Secretaria de Agricultura do RS registra aumento em denúncias de deriva de herbicida
Produtores de uva reclamam de prejuízos às plantações causados por efeito de insumo aplicado em lavouras de soja vizinhas
Publicado em 19 de dezembro de 2023
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Após uma redução nas duas safras anteriores, as denúncias sobre deriva de defensivos usados em lavouras de soja que chegam à Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) voltaram a aumentar neste ano. Desde agosto, já foram comunicados ao órgão 99 casos, que resultaram na coleta de 273 amostras para análise e confirmação de contaminação em propriedades rurais. O problema ocorre quando os insumos, transportados pelo vento, atingem plantações vizinhas.

As queixas envolvem principalmente as culturas da uva, da noz-pecã, da oliva e de hortaliças, que sofrem danos com a dispersão de agroquímicos como o herbicida hormonal 2,4-D.

Nos anos de 2020, 2021 e 2022, foram registradas, respectivamente, 144, 98 e 63 denúncias de deriva no período de agosto a dezembro. Segundo o engenheiro agrônomo e diretor do Departamento de Defesa Vegetal da Seapi, Ricardo Felicetti, os números vinham mostrando queda desde a publicação, pela secretaria, de instruções normativas com relação a treinamento de aplicadores e a declaração de uso dos produtos. O aumento verificado atualmente era esperado.

“Em virtude do ano chuvoso e da janela de plantio muito curta, os produtores (de soja) estão correndo para semear e muitas vezes não observam as condições metereológicas recomendadas e as questões técnicas para uso do equipamento”, explica Felicetti.

O proprietário da Vinícola Guatambu, de Dom Pedrito, Valter Potter, diz que a deriva de insumos têm causado enormes prejuízos aos produtores de uva. Segundo ele, todos os vinhedos do município e parte das plantações de uva de Bagé e de Livramento estão enfrentando o problema, e a entidade vem incentivando os produtores a comunicar os casos.

“No ano retrasado, no ano passado, o pessoal estava desestimulado, porque faz a denúncia, a coleta, dá positivo e fica por isso. Não tem indenização, o Estado não toma medidas, não existe fiscalização de aplicação”, reclama.

Com cerca de 14 mil videiras, o vinhedo mantido pela Universidade Federal do Pampa (Unipampa), no campus Dom Pedrito, é um das áreas prejudicadas pela deriva de 2,4-D. Localizado às margens da BR 293, o campo experimental de 4,5 hectares concentra 87 variedades de uva e foi criado em 2014, como apoio ao curso de bacharelado em Enologia da universidade.

O enólogo e professor Marcio Gabbardo afirma que, neste ano, a deriva vem ocorrendo com maior intensidade. “Em variedades mais sensíveis, como Gewürztraminer, Manzoni Bianco e Bordô, a planta está com 50% a menos de folha, e isso afeta diretamente a produção. Em alguns casos, há mais de 50% de perda da área foliar das plantas”, relata Gabbardo. O problema é percebido também na zona urbana do município. “Tenho um vinhedo na minha casa, com umas 50 plantas, e aqui há deriva de 2,4 D”, afirma o professor.

Quando a lavoura de origem do defensivo é identificada – pela equivalência entre o princípio ativo aplicado e o que atingiu a propriedade vizinha –, os infratores podem arcar com multas de até R$ 21 mil, diz Felicetti. Para o agrônomo, o aumento de denúncias aponta a necessidade de qualificar maios os produtores, aplicadores e responsáveis técnicos. “Talvez esta safra seja um momento de reavaliarmos todo o processo que vinha trazendo resultados satisfatórios”, diz.

 

 

Fonte: Bruna Casali / Com informações Correio do Povo
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