Réus e advogados protestam contra suspensão de júri do caso Kiss
Ato simbólico ocorre na data em que seria realizado julgamento, suspenso por decisão do STF
Publicado em 27 de fevereiro de 2024
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Advogados e réus promoveram, nesta segunda-feira, um ato simbólico contra a suspensão do segundo júri sobre a tragédia na boate Kiss, no Foro Central, em Porto Alegre. A manifestação ocorreu na mesma data em seria realizado o julgamento, que foi suspenso por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão foi do ministro Dias Toffoli e atende a recursos do Ministério Público do RS (MPRS).

Estiveram presentes no ato os sócios da Kiss e réus Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, o Kiko, e o advogado dele Jader Marques. Os outros dois acusados, Marcelo de Jesus dos Santos, vocalista da banda Gurizada Fandangueira, e o produtor de palco Luciano Bonilha Leão, foram representados pelos advogados Tatiana Borsa e Ariel Garcia Leite, respectivamente.

"Em 26 de fevereiro, nós deveríamos realizar o júri da Kiss, que foi cancelado. Esse é um ato simbólico que mostra para a sociedade que nós queríamos encerrar o martírio que tem sido os 11 anos de processo [...] nós queríamos o julgamento, que não vai se realizar porque o MPRS não quer. Não há data nem previsão de quando será os recursos serão julgados em Brasília. Quando nos perguntam o que vai acontecer, nós, como defensores, só podemos dizer que não sabemos”, afirmou Marques.

Mauro Hoffmann, que no primeiro júri foi condenado a pena de 19 anos e seis meses de prisão, classificou como ‘teatro’ o julgamento que estabeleceu a sentença. “Esperávamos um júri dentro da lei e da normalidade, já que o anterior teve quatro ou cinco nulidades aprovadas pelo Tribunal de Justiça. Poderiam ter sido mais nulidades, tamanhas foram as vezes em que o MPRS e o juiz passaram do limite. Como réu, para mim aquilo era um teatro. Precisamos de um júri honesto e limpo. Nenhum dos réus foi indiferente às mortes. Se houvesse um novo julgamento, o resultado seria outro.”

"Se a nossa verdade nos prender, não tem problema. Já fomos presos por algo que não desejamos e não tivemos escolha. É muito difícil ser julgado por algo que achávamos que nem deveria ter ido a júri. No meu interrogatório, me desestabilizei e não consegui mostrar o que queria. Gostaríamos de ter um júri tranquilo, para explicar às pessoas, inclusive aos pais [das vítimas], que não houve maldade. Qualquer pessoa que sequer pensasse em algo daquele tamanho seria um maníaco, e aqui ninguém é isso”, declarou Elissandro Spohr, que teve anulada a pena de 22 anos e seis meses de prisão.

Por conta da decisão do STF, o processo vai permanecer suspenso até que a corte julgue os recursos do MPRS e do Ministério Público Federal. Contatado pela reportagem, o MPRS destacou que não vai se manifestar sobre o protesto dos réus.

A suspensão do júri também atendeu os anseios da Associação das Vítimas da Tragédia de Santa Maria (AVTSM). Segundo a organização, antes da realização do júri, os ministros do Supremo deveriam analisar os pedidos contra a ordem do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que determinou um novo. O restabelecimento da condenação dos réus é o que pedem os familiares das vítimas.

O incêndio na Boate Kiss ocorreu em 27 de janeiro de 2013. A tragédia deixou 242 mortos e mais de 600 feridos.

Um primeiro júri popular do caso ocorreu em dezembro de 2021, presidido pelo juiz Orlando Faccini Neto. Na ocasião, os quatro réus foram condenados a penas que variaram entre 18 e 22 anos de prisão, por homicídio com dolo eventual.

O julgamento teve duração de dez dias, se tornando o mais longo da história do RS. O quarteto foi preso após o então presidente do STF, ministro Luiz Fux, suspender um habeas corpus concedido pela 1ª câmara Criminal do TJRS.

Em agosto de 2022, no entanto, a decisão do júri foi anulada pelo TJRS, que atendeu recursos das defesas alegando irregularidades no processo como, por exemplo, uma suposta reunião entre Faccini e os jurados sem a presença de advogados dos réus. Todos os acusados permanecem soltos desde então.

 

 

Fonte: Bruna Casali / Com informações Correio do Povo
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