A chuva que castiga novamente o Rio Grande do Sul interfere diretamente na semeadura da safra gaúcha de inverno. Os altos acumulados coincidem com as janelas indicadas pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) para implantação das lavouras de trigo, canola, aveia e cevada, especialmente na Metade Norte.
“O volume acumulado preocupa. Tivemos bastante chuva nas últimas 72 horas, próximas a 200 milímetros em algumas localidades”, detalhou a agrometeorologista e engenheira agrônoma do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária (DDPA) da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), Loana Cardoso, nesta terça-feira, 18.
Além de interromper as operações em campo, a água leva os investimentos já realizados em sementes, adubos, fertilizantes e mão de obra. Nas regiões mais altas, o problema está na erosão, facilitada pelos declives do relevo.
“O problema chega, inclusive, em quem planta mais tarde, que está preparando o solo, como os agricultores dos Campos de Cima da Serra”, exemplificou a agrometeorologista.
De acordo com o Comunicado Agro meteorológico 70, publicado pelo DDPA/Seapi, o cenário deve perdurar nos próximos dias. As precipitações mais expressivas são esperadas para as regiões Central, Planalto Médio e Missões, tradicionais produtoras de trigo, onde os acumulados oscilarão entre 150 mm e 200 mm.
Apenas para pontos no limite do Extremo Sul do Estado, da Fronteira Oeste e da Divisa com Santa Catarina são esperados menores volumes de chuva de até 30 mm. Nas demais regiões o indicativo são de volumes entre 30 até 150 mm.
“A chuva atrapalha, interfere e causa prejuízo. As que ocorrem em grande volume e por um ou dois dias atrasam o plantio, mas a consequência direta é que causam erosão e a perda de insumos, fertilizantes e adubo”, explica o agrônomo da Emater/RS-Ascar, Alencar Rugeri.
Evolução das lavouras de inverno
Apesar das condições climáticas desfavoráveis, o DDPA aponta que a implementação das culturas de inverno avança no RS. Conforme o boletim agrometeorológico divulgado nesta terça, 18, há boa evolução nas lavouras de trigo implantadas precocemente. Após a safra frustrada de 2023 e com os baixos preços do cereal, a estimativa é que a área cultivada com o cereal, neste ano, seja menor que a de 1,5 mil hectares do ano passado.
É esperada redução de área também para a cevada. A principal razão é a frustração da safra anterior, na qual quase a totalidade dos grãos produzidos nos 40.695 hectares não obteve classificação comercial adequada para a indústria cervejeira.
Já a semeadura de canola está mais avançada em comparação a outras culturas de inverno. Com o período preferencial de cultivo antecipado no Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), a estimativa é que o Estado plante mais que os 77.418 hectares da safra anterior.
Também há prognóstico de ampliação de área para a aveia branca, o que pode, ainda, ser influenciado pelas restrições na oferta de sementes. “A área cultivada (com aveia) na safra anterior no Estado (2023) foi de 364.989 hectares, e a produtividade foi de 1.619 kg/ha (IBGE)”, informou o DDPA.
Contudo, a projeção oficial para a safra gaúcha de inverno deste ano deve ser divulgada a partir da próxima semana pela Emater/RS-Ascar.