Após chuva, cooperativas do norte gaúcho impulsionam recuperação econômica do RS
Da doação de mantimentos à abertura de novas linhas de crédito, setor está empenhado em fortalecer a economia local. Hoje são 370 cooperativas no Estado, presente em todos os municípios
Publicado em 06 de julho de 2024
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Do reparo de estruturas danificadas, passando pela abertura de novas linhas de crédito até a doação de água e alimentos, a recuperação do Rio Grande do Sul após a enchente de maio passa pelas mãos das cooperativas gaúchas — trabalho valorizado neste sábado (6), quando se comemora o Dia Internacional do Cooperativismo com ações em todo o Estado.

De acordo com o levantamento do Sistema Ocergs lançado na última terça-feira (2), o Rio Grande do Sul tem 370 cooperativas que reúnem 3,8 milhões de associados e geram 75,9 mil empregos diretos — sendo cerca de 10% do total só na Região Norte. As cooperativas se dividem nos ramos de crédito, transporte, saúde, agropecuário, infraestrutura, trabalho, produção de bens e serviços e, juntas, movimentaram mais de R$ 86,3 bilhões em 2023.

Desses recursos, a maior parte permaneceu nos municípios gaúchos. Isso porque, desde a criação deste modelo de negócio, no século 19, o fomento à economia local faz parte do dia a dia das cooperativas.

— Todo o resultado que o cooperativismo gera na cidade é investido nela, então a comunidade participa direta e indiretamente. Nenhum investimento é feito fora da região, fora do Estado. É geração de riqueza, desenvolvimento econômico e social nas comunidades — afirmou o presidente da Ocergs, Darci Hartmann.

Foi este olhar local que permitiu uma resposta rápida nos primeiros dias de chuva. Na Região Norte, cooperativas de crédito mobilizaram doações em Pix e divulgam a aplicação dos recursos com transparência através de seus sites. Enquanto cooperativas de saúde focaram esforços em ações de primeiros socorros, associações agropecuárias centralizaram doações que vieram de todos os estados do Brasil, com o ramo de transporte responsável pela distribuição regional dos donativos.

Atingido em menor gravidade na comparação com o resto do RS, o norte gaúcho contou com cooperativas como a Cotrisal, de Sarandi, que enviou mais de 25 toneladas de água, produtos de limpeza e alimentos não perecíveis à Defesa Civil. De Não-Me-Toque, a Cotrijal doou mais de 18 toneladas de suprimentos. Em Cruz Alta, a Cooperativa Central Gaúcha Ltda (CCGL) enviou oito toneladas de alimentos, em especial leite em pó e achocolatado, e disponibilizou caminhões para auxiliar no abastecimento de 15,5 mil litros de água em Porto Alegre. 

A metade norte do Estado concentra grandes cooperativas que se envolveram com a reconstrução. Só na microrregião de Passo Fundo são 16 registradas no Sistema Ocergs, com quase 136 mil associados e cerca de 1,3 mil trabalhadores diretos. 

Suporte para reconstruir do pequeno ao grande

Além das grandes do setor, as pequenas cooperativas também têm se mobilizado para auxiliar seus associados. A Cooperativa Lagoense de Agricultura Familiar (Coolaf), de Lagoa Vermelha, trabalha em conjunto com a Emater para recuperar o solo encharcado e estabilizar a produção de hortifrúti nas propriedades de mais de 80 cooperados. 

— As chuvas iniciaram no final do mês de abril e, desde então, a produção de alface, temperos, repolho e laranja não conseguiu ser normalizada. Sentimos o impacto de imediato e agora estamos na tentativa de uma assistência técnica para os cooperados — explicou a presidente da Coolaf, Carina Aparecida da Silva. 

A principal fonte de renda dos agricultores é o Programa Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), atendendo também a Região Metropolitana. Para driblar a situação e por momentaneamente não ter produto suficiente para atender outros locais do RS, a presidente afirma que a Coolaf focou seus esforços em atender o comércio regional. 

Enquanto isso, o setor busca mais recursos para a reconstrução. A Ocergs defende junto aos governos estadual e federal um projeto de refinanciamento dos débitos dos produtores rurais com prazo de 10 anos e extensão dos débitos das cooperativas, permitindo mais fôlego para que os associados possam se recuperar financeiramente.

— O produtor rural não tem mais capacidade financeira de honrar seus compromissos e, por isso, precisamos de um fundo garantidor para que eles possam acessar e pagar suas contas. São bons produtores, mas que infelizmente nos últimos anos, entre enchentes e secas, praticamente perderam toda a sua produção — ressaltou Hartmann.

Enquanto isso não acontece, o Sicredi prorrogou o vencimento de empréstimos e financiamentos e suspendeu protestos e negativações automáticas de títulos, assim como de parcelas e vigência de seguros. A cooperativa também acelerou a emissão de segunda via de cartões, a substituição de máquinas de cartão danificadas e o acionamento de seguros para quem teve danos.

Esse foi o caso de Teresinha Pazinatto, 79 anos, moradora de Coronel Bicaco que acionou o seguro da propriedade rural em que vive com o marido depois que um temporal com fortes ventos descobriu duas casas e três galpões, além de danificar parte da plantação da família e uma área de reflorestamento. Com o suporte da cooperativa, ela conseguiu cobrir praticamente todas as despesas de reconstrução, com agilidade.

— O seguro foi algo extremamente importante nesse momento. Ele vinha sendo pago há praticamente 20 anos ou mais, e nunca tínhamos feito uso. Mas no momento em que se precisou, ele estava lá pra fazer a cobertura de todas essas despesas que tivemos com a reconstrução — contou Teresinha.

Conforme a assessora de negócios da Sicredi Integração de Estados RS/SC/MG, Samara Tolotti, houve um crescimento expressivo no número de acionamento de seguros, principalmente de automóveis em regiões onde carros ficaram submersos. 

— O crescimento de uma semana pra outra sempre era expressivo. Por exemplo, saímos de 400 para 1 mil acionamentos — disse.

Infraestrutura para recomeçar

Cooperativas também auxiliam em outras frentes, como distribuição de energia elétrica, irrigação, telefonia, internet, telecomunicação, saneamento básico, infraestrutura rodoviária e ferroviária, construção civil e habitação. E a dificuldade de acesso para chegar em locais mais duramente afetados foi o grande desafio encontrado durante a chuva. 

Pontes destruídas e estradas interrompidas dificultaram o trabalho da Coprel, de Ibirubá. Como forma de solucionar o problema, os próprios associados da cooperativa auxiliaram a abrir caminhos para que a energia elétrica fosse restabelecida e eletricistas carregaram postes até as localidades para devolver o fornecimento.

Depois de reparar a infraestrutura na região, a Coprel também deslocou equipes, veículos e materiais para auxiliar outra cooperativa atingida, a Certel do Vale do Taquari. Com esse suporte, cidades como Teutônia tiveram a energia restabelecida. 

A colaboração impressiona até mesmo quem integra o setor desde 1975, como é o caso do empresário Paulo Trevisan, que viu as cooperativas se multiplicarem no Estado.

— O Rio Grande do Sul sempre foi o celeiro do cooperativismo de todas as frentes. A gente vê nitidamente o que é pujança, o poder de centenas de milhares de pessoas com o mesmo propósito. Então, vamos dizer assim, o cooperativismo não tem limites — resumiu Trevisan, que já foi vice-presidente de uma cooperativa agropecuária. 

Para o empresário, associado da Sicredi Integração de Estados RS/SC/MG, a distribuição de resultados e a fidelização são inigualáveis, apontando o caminho para um futuro de recuperação e crescimento.

 

 

Fonte: Bruna Casali / Com informações GZH
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