Passado o Carnaval, os dois partidos que são considerados os maiores do RS, por manterem, há décadas, o comando de mais prefeituras, passam a intensificar as articulações para as eleições gerais de 2026. A antecipação das tratativas, admitem os dirigentes partidários do PP e do MDB, decorre tanto de fatores nacionais como regionais, e vai garantir um 2025 agitado na política do RS.
Em função de seus tamanhos, as decisões das duas legendas têm impacto relevante sobre a corrida eleitoral e, por isso, são monitoradas pelos demais partidos. O PP é a sigla que elegeu o maior número de Executivos municipais em 2024: 164. O MDB está à frente de outros 126, entre eles a Capital, Porto Alegre. Juntas, as duas agremiações comandam 58% das 497 cidades gaúchas.
Conforme o presidente estadual do PP, deputado federal Covatti Filho, a expectativa, neste mês de março, é sobre a concretização ou não das negociações nacionais para a formação de uma federação partidária entre PP, Republicanos e União Brasil. Ele ressalva, contudo, que, independente de as tratativas terem sucesso, já encaminha conversações com as duas legendas para que as três estejam juntas no Estado em 2026.
“Há sim a vontade de ter um desfecho positivo desta federação. Permitiria uma coligação na proporcional como existia no passado, com chances de os três partidos colocarem muitos deputados tanto na Câmara Federal quanto na Assembleia Legislativa”, projeta.
Covatti Filho admite que, apesar das expectativas, a construção é “difícil, são três grandes partidos tentando se organizar.” Mas assinala que no RS os partidos mantêm um diálogo forte. “Já conversamos internamente, independente da federação, para que estejamos juntos em 2026, e tentemos construir um projeto. Há vários caminhos, e os movimentos nacionais vão trazer mudanças político-partidárias aqui”, estima.
No MDB, a prioridade já definida é a candidatura própria ao governo do Estado, com a abertura das vagas de vice e das duas ao Senado para a atração de aliados. Apesar das especulações sobre as pretensões do prefeito da Capital, Sebastião Melo, e de possíveis parceiros terem inclinação pelo deputado federal Alceu Moreira, o nome natural dentro do partido para a disputa ao Piratini é o do vice-governador Gabriel Souza. Que já se movimenta abertamente neste sentido.
“A eleição de 2026 parece que teve início realmente antes. As coligações serão concluídas no período de convenções, mas há muita gente ansiosa. Alguns partidos já começaram a se movimentar, então não vamos aguardar. Vamos nos preparar e trabalhar ao longo de todo este ano visando 2026”, adianta o presidente do MDB gaúcho, deputado estadual Vilmar Zanchin.
Conforme o emedebista, o foco é a legenda liderar no RS um projeto do chamado centro político. “Quando falo que vamos liderar, é porque já tiramos como definição que teremos candidato a governador. Vamos oferecer a alternativa que é ter o candidato ao Executivo, e buscar parceiros neste projeto, formando uma coalizão que seja a mais robusta possível”, afirma.
Candidatura à presidência e bloco de direita estão entre prioridades
Nas articulações com vistas a 2026, o MDB gaúcho não apenas decidiu como prioridade um nome próprio ao governo, como, nacionalmente, vai defender que o partido tenha candidato à presidência da República. A posição, a ser consolidada nos encontros regionais ao longo de 2025 (deverão ser pelo menos oito macro mobilizações, com apresentação também de postulantes às proporcionais, e fechadas com um congresso na Capital, no fim do ano), tenta se antecipar a desdobramentos de negociações nacionais.
“O MDB, nacionalmente, também é grande, com muita força regional. O Nordeste tem uma posição, o Sudeste, outra. O Sul, outra. Neste momento, não sabemos qual será a decisão nacional e nem o quanto vai impactar o RS. Não estão definidos candidatos à presidência da República, nem coalizões a nível nacional, nem os palanques regionais necessários. Mas o fato é que uma candidatura própria à presidência da República evita que estejamos no RS em um palanque que não nos é interessante e amplia nossas possibilidades de composição no Estado”, explica o presidente do diretório gaúcho, deputado estadual Vilmar Zanchin.
No PP, para além da esperança de formação de uma federação nacional, e das articulações em Brasília, no RS o foco é a construção de um bloco forte do centro para a direita. O partido sabe das expectativas do MDB em contar com a sigla em uma coalizão de centro encabeçada por Gabriel Souza como candidato ao governo. E, também, da intensa movimentação do PL no sentido de ventilar nomes e liderar uma composição que aglutine o campo da direita ao seu redor.
“Só que, antes de chegarmos a cogitar aproximações, vamos, primeiro, tentar construir uma candidatura. Acredito que temos grandes chances de conseguir, ainda mais se houver uma federação. Com uma candidatura posta, aí sim tentaremos fazer essas conversas, no sentido de fazer alguma coligação. Se não for possível, tocaremos nosso projeto. Um partido do tamanho do nosso, se não pensar grande, se apequena”, avisa o presidente estadual, deputado federal Covatti Filho.