Movimentações políticas podem levar 15 deputados gaúchos a trocar de partido
Mudanças devem se concretizar na janela partidária de 2026. Rugas internas, desconexão ideológica e busca por espaço motivam negociações
Publicado em 08 de julho de 2025
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reorganização partidária em curso no país a partir de fusões e federações está levando políticos gaúchos a redefinir seu futuro. Ao menos 15 deputados estaduais e federais do Rio Grande do Sul estudam trocar de partido nos próximos meses, de olho nas eleições de 2026. A mudança leva em consideração fatores distintos, como rusgas internas, desconexão ideológica, dificuldade para se reeleger na atual legenda ou migração em grupo. A temporada de transferências foi aberta pelo deputado estadual Rodrigo Lorenzoni, que há duas semanas trocou o PL pelo PP.

Rodrigo saiu do PL após uma sucessão de divergências com a cúpula do partido no Estado e na esteira do caminho trilhado pelo pai, Onyx Lorenzoni, que também se filiou ao PP. O destino deve ser o mesmo de Cláudio Tatsch, ex-colega de bancada de Lorenzoni no PL e que vem negociando transferência com a direção do PP.

Rodrigo recebeu carta de anuência do PL para sair, mesmo instrumento concedido pelo MDB ao deputado federal Osmar Terra. Com origem no PCdoB e militância em organizações clandestinas de combate à ditadura militar, Terra tem 40 anos de MDB. Todavia, estava isolado no partido por sua adesão ao bolsonarismo e vai assinar ficha em breve no PL, mesma legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro. Outros deputados que estão desconfortáveis em seus partidos são Any Ortiz, do Cidadania, e Daniel Trzeciak, do PSDB. As duas siglas, que formam uma federação cuja vigência termina em 2026, seguirão rumos distintos.

Enquanto o Cidadania se reaproxima da esquerda e flerta com o PSB na montagem de uma nova federação, o PSDB encolheu nas urnas e perdeu praticamente todas as lideranças nacionais após se aproximar do bolsonarismo. Com uma base eleitoral de direita e descontente com as movimentações recentes do partido, Any está praticamente acertada com o PP.

Já Trzeciak transita à vontade no bolsonarismo, mas teme disputar a reeleição por um PSDB cada vez menor. Assediado por várias siglas, ele tem conversas avançadas com o Republicanos. Os tucanos, aliás, devem perder seus dois deputados federais pelo Rio Grande do Sul. Além de Trzeciak, Lucas Redecker também está de saída. O parlamentar seguirá o governador Eduardo Leite no PSD, acompanhado de pelo menos três dos cinco deputados estaduais do partido: Nadine Anflor, Valdir Bonatto e Neri, o Carteiro. Da bancada estadual, apenas Kaká D’Ávila e Pedro Pereira devem continuar no PSDB.

Outra legenda que deve minguar na Assembleia Legislativa é o União Brasil. Dos três deputados, dois estão prontos para sair, faltando apenas definir o destino. Com receio de não conseguir se reeleger na federação formada com o PP, Thiago Duarte e Aloísio Classmann ainda fazem contas para verificar em qual partido é mais seguro garantir um novo mandato. Por enquanto, a preferência é pelo Republicanos.

Comandada por pastores e com forte penetração no eleitorado evangélico, a agremiação deve receber outros dois deputados estaduais. Único membro da antiga bancada do PTB a permanecer na legenda, rebatizada de PRD, Elizandro Sabino também é pastor e vê no Republicanos a forma mais tranquila de manter os votos de base religiosa. Todavia, ele também flerta com o MDB, para onde migrou sua esposa, a vereadora de Porto Alegre Tanise Sabino.

O Republicanos pode receber ainda Elton Weber, do PSB. Afinado com o PT no plano federal, o comando do partido cogita intervir no diretório gaúcho, afastando do poder o grupo de Weber e do deputado federal Heitor Schuch.

Além das divergências com a cúpula nacional, ambos enfrentam uma mudança no perfil do seu eleitorado, os pequenos agricultores familiares, um grupo que se afastou da esquerda e está cada vez mais sintonizado com o bolsonarismo. Dessa forma, Weber cogita migrar para o Republicanos, para o MDB ou para o PSD, este último o provável destino de Schuch.

Caso a intervenção se confirme, o diretório local será entregue para o ex-deputado Beto Albuquerque, uma mudança que abre espaço para a filiação de Manuela D’Ávila, ex-PCdoB. A ex-deputada também dialoga com PT e PSOL, outros possíveis destinos. No outro polo do espectro ideológico, dois parlamentares de direita estudam trocar de partido em busca de siglas mais robustas. É o caso do deputado estadual Claudio Branchieri e do federal Maurício Marcon, ambos do Podemos, que devem ir para o PL.

Todas essas mudanças só devem se concretizar em março de 2026, quando abre a janela de migração partidária para deputados estaduais e federais. Até lá, eventuais trocas sem maiores riscos de perda do mandato só ocorrerão com carta de anuência do partido de origem, caso de Rodrigo Lorenzoni e Osmar Terra. A legislação assegura manutenção do mandato ao parlamentar se houver desvio do programa partidário ou grave discriminação pessoal sofrida pelo político. Uma alternativa para antecipar a troca pode ser a formalização de uma fusão que dê origem a uma nova legenda. Em caso de federação partidária, a regra deve ser estabelecida em estatuto.

 

Fonte: Bruna Casali / Com informações GZH
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