O outono começa ainda sob a influência do El Niño, mas a estação não vai terminar com o fenômeno presente no Oceano Pacífico Equatorial. Declarado no começo de junho do ano passado, o evento atual do El Niño deve chegar ao fim nas próximas semanas, muito provavelmente em abril ou o mais tardar em maio.
Na sequência do El Niño, com o seu término, inevitavelmente haverá uma fase neutra no Oceano Pacífico, ou seja, a ausência dos fenômenos El Niño ou La Niña. Ocorre que, por todos os indicativos, este período de neutralidade deve ser muito breve e condições de La Niña devem se instalar no final do outono ou durante as primeiras semanas do inverno, entre junho e julho.
Apesar da provável declaração de um evento de La Niña apenas em junho ou julho, nas próximas semanas áreas com águas mais frias do que a média vão ficar cada vez mais evidentes na faixa equatorial, à medida que começa o processo de formação da La Niña com a chegada à superfície de águas mais frias vindas do fundo do mar por um fenômeno chamado de ressurgência.
A mudança para um estado de La Niña no Pacífico, porém, não dependerá apenas de águas mais frias. Tanto o El Niño como a La Niña são fenômenos de oceano e atmosfera. Assim, a La Niña somente estará configurada quando (1) a temperatura do mar estiver em patamares de La Niña por semanas seguidas e (2) a circulação de ventos estiver dentro de uma padrão da fase fria do Pacífico.
Ou seja, em nossa opinião a probabilidade de um evento de La Niña nos próximos meses é por demais elevada. Aliás, esta é a tendência pela análise também do Serviço Nacional de Meteorologia (NWS), dos Estados Unidos. O último prognóstico de probabilidades para o Pacífico do órgão indica mais de 80% de probabilidade de La Niña no segundo semestre deste ano.
O fenômeno aumenta a possibilidade de estiagem e de frio no Sul enquanto no Norte e no Nordeste provoca aumento da chuva. A NOAA, inclusive, emitiu um “La Niña Watch” ou aviso de La Niña, indicando a possiblidade de retorno do fenômeno, mesmo que as condições atuais ainda sejam de El Niño e moderado.
O pico do El Niño foi atingido no último trimestre de 2023 e no começo de 2024. Curiosamente, neste momento, por parte da NOAA há simultaneamente um aviso de El Niño ou “El Niño Advisory” (aviso que El Niño está presente e deve seguir atuando) e um aviso de La Niña ou “La Niña Watch” (aviso de condições favoráveis à La Niña nos próximos seis meses).
Conforme a mais recente estimativa da NOAA, há uma probabilidade de 83% de que o El Niño chegue ao fim e o Pacífico
Equatorial evolua para uma condição de neutralidade agora no trimestre de abril a junho que vai marcar o outono.
Para o trimestre de maio a julho, as probabilidades são de 3% de El Niño, 65% de neutralidade e 32% de La Niña. Para o trimestre de inverno de junho a agosto, 1% de probabilidade de El Niño, 37% neutro e 63% de La Niña. No trimestre de julho a setembro, 1% de El Niño, 24% de neutralidade e 75% de La Niña.
No trimestre agosto a outubro, 1% de El Niño, 17% de neutralidade e 82% de La Niña. No trimestre de primavera, por fim, entre setembro e novembro, 1% de El Niño, 14% de neutro e 85% de La Niña.
Assim, com base na estimativa da NOAA, haveria uma repetição do que se viu no ano passado, mas com sinal contrário. Em 2023, a transição de La Niña para El Niño foi muito rápida. Para 2024, a agência de tempo e clima dos Estados Unidos projeta uma transição novamente muito rápida, mas desta vez de El Niño para La Niña.
Considerando apenas os eventos de forte El Niño, como é o caso de 2023-2024, cinco dos oito eventos desde 1950 foram seguidos por um episódio frio, portanto a maioria. A transição aconteceu rapidamente nestes casos. Dois eventos de El Niño forte (1973 e 1998) tiveram apenas um período de três meses de condições neutras antes de mudar para a fase fria. Outros dois anos (1983 e 2010) tiveram dois trimestres neutros na transição. No Super El Niño de 2015-2016, a neutralidade na transição ocorreu durante três períodos de três meses.